A mensagem convocou servidores comissionados a irem à sessão da Câmara Municipal para pressionar os vereadores a aprovar devolução de recursos para o Executivo
Uma publicação em uma rede social provocou uma grande discussão na Câmara Municipal de Guaçuí, na noite desta segunda-feira (18). Uma secretária da atual administração do município - conforme afirmado pelos vereadores - publicou mensagem convocando todos os servidores municipais comissionados para irem à sessão do Legislativo e pressionar os vereadores a fazer a devolução do duodécimo (recurso que a Câmara tem direito na arrecadação municipal), visando garantir dinheiro para pagar a rescisão dos contratos desses comissionados.
Os servidores comissionados têm seus contratos rescindidos quando termina a administração municipal. E, no caso de Guaçuí, o atual prefeito Marcos Jauhar não conseguiu se reeleger, o que torna ainda mais urgente conseguir pagar o que está pendente até o final do ano.
A mensagem provocou a reação de alguns vereadores que não aceitaram o posicionamento da secretária e do prefeito. Ela afirma que estava em reunião no gabinete do prefeito e, em seguida, faz a convocação para fazer pressão nos vereadores (veja a mensagem na íntegra abaixo). Vários servidores se fizeram presentes.
Gastos acima do teto
O presidente da Câmara, vereador Valmir Santiago, disse que o prefeito vinha gastando acima do teto, conforme alertas do Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo (TCE-ES), o que fez o orçamento estourar. "E, agora, ele quer que a Câmara repasse dinheiro, sem a gente saber como vai ser ano que vem, porque nem processo de transição não aconteceu ainda", disse. "O dinheiro é da Câmara e não são milhões, como afirma a secretária, e temos responsabilidades a cumprir aqui também, então, vai ser devolvido na hora certa que tiver que ser devolvido", completou.
Já o vereador Julinho Tererê afirmou que, se depender dele, a Câmara não vai devolver nada. "O prefeito usou essa tribuna (da Câmara Municipal) para falar que as contas estavam em dia, mas o dinheiro é da Câmara e, se depender de mim, não vai devolver dinheiro nenhum", afirmou.
O vereador Nelsinho Salvador disse que a gestão "fez festa na eleição, com dinheiro público, e agora a conta chegou". "E quer transferir a responsabilidade para a Câmara, mas nós não vamos pagar essa conta", disse.
Repúdio e defesa
O vereador Vitor Moraes criticou a mensagem encaminhada pela secretária, destacando que ela precisa entender que não fizeram uma boa gestão e que a população precisa saber como está o município. "Mas não houve transição até agora", afirmou. "Devem 3 milhões de reais a fornecedores e querem pressionar a Câmara para a pagar a conta, por isso meu total repúdio a essa pressão", completou.
Por sua vez, o vereador Wanderley Moraes destacou que a Câmara tem mais de R$ 1,1 milhão na conta, enquanto o município está passando dificuldades. Ele cobrou aos vereadores contrários à devolução do recurso que a Câmara sempre ajudou quando solicitada. "Nosso compromisso é com esse governo e não com o que vai tomar posse, então, peço que possamos ser a solução do problema e não mais um problema", colocou. "Não importa o que o prefeito fez ou deixou de fazer, porque não podemos deixar servidores, fornecedores e prestadores de serviço sem receber, além de ser um dinheiro que vai deixar de circular na cidade", acrescentou, afirmando que "o dinheiro não é da Câmara, mas sim do povo".