Aos 45 do segundo tempo do ano de 2021 eis que começa a surgir um sopro de esperança para o futebol nacional. A nova lei das sociedades anônimas do futebol (SAF), sancionada em 2021, que passou a permitir a compra de clubes de futebol, com algumas regalias tributárias, foi usada por Cruzeiro e Botafogo para transferir a responsabilidade de gestão para seus novos compradores.
O assunto é de difícil absorção até mesmo pela grande imprensa pois envolve complicadas transações financeiras e assunção de dívidas. Para tentar explicar, e ser de fato até impreciso, Cruzeiro e Botafogo foram vendidos pelo mesmo valor: 1,4 bilhões de reais. Compostos em 1 bilhão em obrigações passadas (dívidas) e 400 milhões em forma de dinheiro novo (investimentos). Entretanto o que traz mídia, os valores em si, não é o mais importante.
Clubes de futebol no Brasil se acostumaram ao dinheiro fácil (contratos de TV com a Globo) e com isso pararam de se reinventar. O dreno deste dinheiro acontece dentro do próprio clube. As benesses de ser um conselheiro - ingresso de jogos para a família, estacionamento cativo, tirar foto com jogador, ter comissão em negociações e um mar de outras nababices – estão com os dias contados. Há clubes que possuem mais de 500 conselheiros! Não existe vaca gorda que dê tanto leite que alimente essa quantidade de bezerros. E as vacas estavam começando a morrer.
Com os novos donos, os clubes podem se concentrar no que de fato rentabiliza a estrutura do futebol: venda de camisas, melhores contratos de TV, liga mais atraente, melhores preços nos jogadores e a volta dos estádios cheios. E isso é o mais importante. Hoje a atenção do público compete com a Netflix, jogos de vídeo game, metaverso e redes sociais. O futebol precisa se transformar e o único caminho para que essa transformação de fato aconteça é a SAF.
É importante que os outros clubes sigam este caminho de maneira rápida. É necessário que os futuros donos dos 20 maiores clubes do país sentem à mesa e façam como os ingleses fizeram no início dos anos 90. Quando a Premier League foi criada, o futebol inglês era motivo de chacota na Europa. Algumas décadas depois, virou o sonho de consumo de qualquer jogador/torcedor. E nós temos matéria prima para fazer melhor do que os ingleses, e o mundo vai voltar a ter medo dos clubes brasileiros. Obrigado, Ronaldo. Obrigado, John Textor.