Muniz Freire e Iúna: um trecho de abandono

Muniz Freire e Iúna: um trecho de abandono

Por Pe. José Carlos Ferreira da Silva¹

"Para quem nasceu na década de 70, o Espírito Santo era quase um estado invisível. Esquecido no canto do Sudeste, com infraestrutura precária, poucas perspectivas e muitas promessas jogadas ao vento. A capital ainda buscava identidade, o interior era um mar de chão batido, e as oportunidades, quando apareciam, vinham devagar — como quem pede licença para não incomodar.

Mas quem teve a graça — e a teimosia — de viver até aqui, sabe o quanto esse chão capixaba mudou. Hoje temos orgulho de um estado que se reergueu sem alarde. Boas escolas, hospitais mais dignos, uma capital que respira beleza e urbanidade, um litoral que não deve nada a ninguém, e uma cadeia de montanhas de tirar o fôlego. O Espírito Santo deixou de ser figurante para ganhar protagonismo em vários setores: educação, segurança, gestão pública. 

A malha viária cresceu também. Sim, cresceu. Mas com a lógica torta de quem distribui o progresso sem régua nem bússola. Para quem percorre o estado, isso é nítido. Há asfalto ligando o nada ao lugar nenhum, enquanto regiões produtivas e populosas seguem no barro, à espera de uma atenção que nunca chega. Entre Muniz Freire e Iúna, por exemplo, o asfalto ainda é sonho velho. Sonho adiado. Um corte cruel na lógica do desenvolvimento. 

É castigo? Punição aos moradores e contribuintes? Ou só o velho e conhecido desinteresse político, que insiste em ignorar onde não tem palanque montado? 

mais absurdo é que o Espírito Santo aprendeu a dar certo. Mostrou que dá para crescer com responsabilidade. E justamente por isso, cada absurdo como esse grita mais alto. Porque não é mais falta de capacidade — é falta de vontade. Como afirma o padre João Batista Maroni: o Espírito Santo tem asfalto que liga o nada ao lugar nenhum. Só não tem asfalto entre Iúna e Muniz Freire." E essa frase, simples e direta, diz tudo. Muniz Freire e Iúna: um trecho ainda em abandono."

¹  É autor do livro Feridas Invisíveis: a realidade do sofrimento psíquico em padres e pastores decorrente da prática pastoral- Editora Dialética. É Mestre em Ciências da Religião, Jornalista e Psicólogo. Atualmente é Vigário Episcopal para Comunicação da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim e Pároco da Paróquia Nosso Senhor dos Passos, bairro Independência, Cachoeiro de Itapemirim.

 

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Segunda, 18 Agosto 2025

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