Por Quem os Sinos Dobram?
Por: José Salotto Sobrinho
Lendo um texto do romance de Ernest Hemingway, sobre a guerra civil espanhola entre os anos 1933 a 1939, me deparei com a frase já conhecida do poema escrito pelo poeta inglês Jonh Donne, numa publicação de 1624: "Por quem os sinos dobram, eles dobram por ti".
Por um momento dei uma pausa na leitura e comecei a divagar, no meu perene saudosismo para refutar a extinção quase total dos sinos das igrejas. Como sinto saudades deles! Além dos badalos anunciando a hora, serviam também para outras comunicações.
Os sinos das Igrejas sempre tiveram um papel na sociedade. O badalar deles é que anunciava os horários, as missas, os eventos, os nascimentos e também as mortes. O dobre de sinos – ou dobre de finados – é o ato de soar os sinos em decorrência do falecimento de alguém. Os sinos comunicam, alertam e avisam, cumprindo assim um papel social, quase ritualístico.
Como não lembrar em Iúna, do Cidinho, sempre usando calça azul e camisa branca, as vezes descalço, as vezes calçado com uma sandália havaiana. Era ele que subia a escadas da torre da igreja para badalar o sino. Cidinho morreu e com ele morreu também o toque do sino!
Mas o soar dos sinos também, às vezes, incomoda. Pelo menos é o que parece. Veja bem que a Câmara Municipal de Piracicaba, tem registro em seus livros de uma lei aprovada em 1896 proibindo dobres de sinos nas igrejas da cidade, fundamentada pelos vereadores de que os ruídos incomodavam as pessoas da cidade.
Os toques dos sinos só eram permitidos para festividades e cerimonias religiosas, não podendo cada toque durar mais de trinta segundos, nem serem repetidos mais de duas vezes na hora, nem mais de seis vezes no dia" O padre José Rodrigues Sechler, vigário de Piracicaba, recorreu da lei com um texto muito bem fundamentado junto à Câmara Municipal da proibição dos dobres de sino, sem êxito!
"O sino dobra a finados.
Faz tanta pena a dobrar!
Não é pelos teus pecados
Que estão vivos a saltar"
(Fernando Pessoa)
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