Exportações do agronegócio do ES apresentam retração nos primeiros oito meses
As exportações atingiram R$ 11,3 bilhões, no acumulado de janeiro a agosto de 2025, e análises do Governo do Estado consideram cenários depois do tarifaço
As exportações do agronegócio do Espírito Santo somaram R$ 11,3 bilhões (US$ 2,11 bilhões), no acumulado de janeiro a agosto de 2025. O resultado representa uma leve retração de 1,6% em divisas frente ao mesmo período do ano anterior. Em volume, os embarques totalizaram 1,6 milhão de toneladas, queda de 4,4%, ante o mesmo período do ano anterior (1,7 milhão de toneladas).
No ranking dos principais produtos em geração de divisas, o complexo cafeeiro segue como carro-chefe, respondendo por mais da metade da pauta, com US$ 1,1 bilhão (52,9%). Em seguida, aparecem a celulose, com US$ 620,2 milhões (29,3%), e a pimenta-do-reino, com US$ 239 milhões (11,3%).
No período, o agronegócio representou 32,5% das exportações totais do Estado. Os produtos do agro chegaram a 125 países, em oito meses, sendo os Estados Unidos responsáveis por 22,2% das divisas (US$ 468,7 mi), Turquia com 7,1% (US$ 150,1 mi) e China com 6,2% (US$ 131,5 mi).
Leve retração
Apesar de uma expansão registrada em diversos produtos, a leve retração geral em volume e geração de divisas foi determinada, principalmente, pelo café, carro-chefe da pauta de exportações do agro capixaba. "Apesar de termos produtos que apresentaram crescimento, como pimenta-do-reino, café solúvel e mamão, a pequena queda em volume e valor das exportações ocorreram devido ao café grão cru, onde houve antecipação do volume de compras, em 2024, para este ano de 2025, em face da possibilidade de entrar em vigor a legislação da União Europeia (EUDR)", comenta o secretário de Estado da Agricultura, Enio Bergoli.
Nesta análise, foram considerados dois cenários, comparando as exportações de agosto – quando começou a vigorar o tarifaço, com as de julho, último mês de comercialização com tarifas mais reduzidas. O primeiro cenário isola os Estados Unidos, somando apenas as exportações para os demais países. O segundo, considera as exportações apenas para os EUA para avaliar o contraste.
O segmento de ovos, que havia conquistado espaço no mercado norte-americano, após a crise da gripe aviária, praticamente parou, com a imposição da nova barreira tarifária. Em julho, foram exportadas 1.090 toneladas para os Estados Unidos, número que caiu para apenas 99 toneladas em agosto (queda de 99,9%). Para outros mercados, a queda foi de 23,5%, reduzindo de 4,3 para 3,3 toneladas. Praticamente, todas as vendas externas estavam concentradas nos Estados Unidos.
Café
O café em grão passou de 13,9 mil toneladas (US$ 77,6 milhões), em julho, para 8,6 mil toneladas (US$ 51,9 milhões), em agosto. Uma queda de 37,6%, em volume, e 33,2% em valor (considerando todos os países, com exceção dos EUA). Especificamente, para os Estados Unidos, foram exportadas 2,1 mil toneladas, em julho, (US$ 10,2 milhões). Em agosto houve queda para 1,7 mil toneladas (-19%) e US$ 7,3 milhões (-28,4%). A exportação direta aos EUA, porém, é pequena, cerca de 6%.
Contudo, o café solúvel, diferente dos demais, apresentou crescimento. Em julho foram US$ 9,9 milhões (0,8 mil toneladas), e em agosto, US$ 14,9 milhões (+50,5%) e 1,2 mil toneladas, alta de 50% (considerando todos os países, com exceção dos EUA). Para os Estados Unidos, as vendas ficaram estáveis em agosto, apesar do tarifaço, com 0,5 mil toneladas e US$ 6,3 milhões. Vale lembrar que os EUA representam cerca de 30% das vendas externas.
A pimenta-do-reino, em julho, faturou US$ 15,3 milhões (2,4 mil toneladas), subindo para US$ 21,8 milhões (4 mil toneladas), em agosto. Um avanço de 42,5% em valor e 66,7% em volume (considerando todos os países, incluindo os EUA). As vendas diretas para os Estados Unidos são irrisórias, ou seja, menos de 1%. A maior parte entra no mercado americano de forma indireta.
Enquanto o mamão teve crescimento nos embarques, de US$ 2,3 milhões (1,8 mil toneladas), em julho, para US$ 2,7 milhões (1,7 mil toneladas), em agosto (considerando todos os países, com exceção dos EUA). A alta foi de 18,8%, embora com pequena redução de 2,9% em volume. Para os EUA, houve alta de volume (0,16 mil toneladas para 0,19 mil toneladas, cerca de 18,7%), mas com registro de queda de receita (US$ 0,21 milhão para US$ 0,18 milhão, cerca de 14,3%).
Alerta
Outro setor em alerta é o de pescados que enfrenta forte retração, em razão das tarifas norte-americanas. Em julho, o Espírito Santo exportou US$ 673,8 mil (69,7 mil kg), mas em agosto, os embarques caíram para US$ 294,9 mil (40,6 mil kg), uma redução de 56,2% em valor e 41,8% em volume. Vale lembrar que 98% das vendas externas são para o mercado norte americano.
"As exportações de ovos, gengibre e pescados foram as mais prejudicadas, no mês de agosto em relação a julho deste ano. O setor de ovos praticamente estagnou, com a nova barreira tarifária. Já o gengibre sofreu forte redução de vendas para os Estados Unidos, em agosto, com queda de um terço das divisas geradas. As exportações de pescados, que estavam com ótimo desempenho, até julho, para os norte-americanos, principal mercado desse segmento, tiveram uma retração significativa de 41%, em agosto, não suportando a ampliação da tarifa imposta de 50%", explica Bergoli.
Medidas do Governo
Diante desse cenário, o Governo do Espírito Santo estabeleceu um Comitê de Enfrentamento das Consequências do Aumento das Tarifas de Importação (CETAX), coordenado pelo vice-governador do Estado, Ricardo Ferraço. Começando com a Lei 595/2025 que autoriza, oficialmente, a transferência de créditos acumulados de ICMS para os setores produtivos mais afetados. O objetivo é liberar cerca de R$ 100 milhões em créditos, para os segmentos de rochas ornamentais, pescados e crustáceos, pimenta-do-reino, mamão e gengibre. A nova legislação também abre espaço a programas de financiamentos específicos, para as empresas exportadoras atingidas.
Também está prevista a criação de uma linha de crédito subsidiada, com dotação inicial de R$ 60 milhões, voltada para o capital de giro das exportadoras. E o Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes) fará a suspensão temporária das prestações de financiamento por até seis meses. Além de disponibilizar linhas de crédito para capital de giro exportação. Empresas capixabas com faturamento de até R$ 20 milhões e que exportam produtos para os Estados Unidos serão elegíveis para a linha de crédito.
Foi aprovada, ainda, a Lei de Compras Institucionais dos Produtos da Agricultura Familiar, a qual determina que pelo menos 30% dos recursos destinados às aquisições de gêneros alimentícios, pelos órgãos públicos estaduais, sejam aplicados em produtos da agricultura familiar. A expectativa é dobrar, em quatro anos, o valor dessas compras, passando de R$ 50 milhões, aproximadamente, para R$ 100 milhões anuais.
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