Há um ano Iúna perdia seu grande benfeitor: Vicente Silveira

Há um ano Iúna perdia seu grande benfeitor: Vicente Silveira

Artigo de Matusalém Dias de Moura 

Presidente da Assembleia Vicente Silveira, Governador do ES Eurico Rezende e Presidente da República João Baptista Figueiredo. Foto tirada dentro do Palácio Anchieta durante visita do presidente ao estado. Foto: Paulo Makoto (1982).
Cérebro de aguçadíssima inteligência, pensador político, trabalhador do povo, benfeitor maior de Iúna na segunda metade do século XX. Com esta frase, eu definiria – aliás, defino – o iunense Vicente Silveira, representante do antigo município de Iúna (à época em que a este ainda pertenciam os, hoje, municípios de Irupi e Ibatiba), na Assembleia Legislativa, no longo período de 26 de maio de 1959 a 31 de janeiro de 1983, data em que encerrou sua profícua vida parlamentar.

Ao recordar, agora, o velho líder, um ano após a sua morte, estudioso que sou da vida política de nossa terra riopardense, e dela participando ativamente como vereador e presidente da Câmara Municipal, nos anos de 1989 a 1992, não tenho dúvidas em afirmar, em voz tonitruante, que, entre os muitos benfeitores de nosso município, o saudoso ex-deputado Vicente Silveira foi o maior de todos, o principal, o mais atuante, o melhor e mais preparado, obviamente com imensurável respeito a todos os outros que, de uma maneira ou outra, deram, ao correr do tempo, seus contributos para o engrandecimento desse fértil pedaço de chão espírito-santense.

Vicente Silveira, antes mesmo de se eleger deputado estadual, pela primeira vez, em 1958, preocupado com a educação da juventude iunense, visionário e desejoso de proporcionar conhecimento e cultura aos jovens conterrâneos de antanho, cuidou de arregimentar a população, organizá-la e uni-la em torno da vitoriosa ideia de criar, na cidade, um Ginásio. À mesma época, também preocupado com a falta de assistência à saúde do povo, do mesmo modo, criou a Santa Casa de Misericórdia de Iúna, outro movimento que alcançou sucesso. Ambas as instituições sem fins lucrativos.

Levado por essa vocação de servir ao próximo e ao município rio-pardense, o então líder acabou ingressando na política partidária, por meio dos quadros da extinta UDN (União Democrática Nacional), partido de oposição à política dominante à época, e elegeu-se e reelegeu-se várias vezes deputado estadual, trabalhando incessantemente pelo bem de Iúna e de seu povo, expandindo, inclusive, seu trabalho em favor do vizinho município de Muniz Freire.
Já deputado estadual, apresentou, em 1962, projeto de lei à Assembleia Legislativa criando o Ginásio Estadual e a Escola Normal de Iúna, o que foi aprovado à unanimidade de seus pares e tornado realidade pelo Governador do Estado.

Continuando sua luta em favor da educação no município, criou, em seguida, os Ginásios Estaduais de Irupi, de Ibatiba e de Pequiá, além de inúmeras escolas primárias por todo o município. Criou, finalmente, o curso público de Técnico em Contabilidade em Iúna e Muniz Freire.

Obstinado que era pela construção do bem comum, liderou os movimentos que culminaram com a criação do Sindicato Patronal Rural de Iúna, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iúna e da Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de Iúna. Conseguiu, ainda, junto ao extinto Instituto Brasileiro do Café – IBC e ao Governo do Estado, o asfaltamento da atual rodovia que liga a sede do município à BR 262.

O Governo do Estado, atendendo a reivindicações do operoso líder, construiu a primeira ponte de cimento armado e concreto na entrada da cidade, ainda de pé, abriu a estrada que liga Iúna a Irupi, passando pelo ICC, deixando-a no ponto de asfaltamento, assim como providenciou a abertura da estrada que liga o distrito de Laranja da Terra à BR 262, passando pelo Córrego Tinguaciba, e a reabertura da estrada que liga o distrito de São João do Príncipe ao distrito de Pequiá.

Outra grande luta empreendida pelo deputado Vicente Silveira foi a instalação, em Iúna, de uma agência do Banco do Brasil e um escritório com técnicos do Instituto Brasileiro do Café – IBC, para facilitação da vida de nossos agricultores. Antes, os proprietários e comerciantes de nosso município tinham que se deslocar até os municípios de Guaçuí e para o município de Manhumirim, em Minas Gerais, em busca de financiamentos para suas lavouras e negócios, além de orientações técnicas.

Mas tudo isso é apenas um resumo das obras pelas quais Vicente Silveira lutou para trazê-las para nossa região.
Todo o tempo em que passou na Assembleia Legislativa, dedicou-o, diuturnamente, ao progresso e ao desenvolvimento de Iúna, sem descuidar um instante sequer das áreas da educação, da saúde e da abertura de estradas, para tirar sua terra natal do ostracismo em que vivia quando ele entrou para a vida pública, não a deixando cair, novamente, no abandono do governo estadual.

Até mesmo no período de 1971 a 1976, no qual ficou sem mandado, não deixou de trabalhar por nosso chão iunense: permaneceu na Assembleia Legislativa, como Diretor-Geral da Casa, onde armou a trincheira para continuar o seu trabalho, tendo, inclusive, nesse tempo, construído o, agora demolido, Colégio Polivalente.

Iúna está cheia das marcas do trabalho do deputado Vicente Silveira, um filho da terra admirado e respeitado no Espírito Santo inteiro pela sua inteligência aguçada, sua sagacidade política, sua hábil articulação e sua elevada capacidade de produzir ideias, colocá-las em prática e realizar obras que proporcionaram, e ainda proporcionam, o bem-estar de todos nós conterrâneos seus, de ontem e de hoje.

Notável articulador político, quando se viu em apuros com um governador que por ele não nutria simpatia e, por isso, Iúna seria prejudicada, pois já tinham se passado dois anos de governo e nada havia sido feito por nossa terra, hábil e destemidamente, liderou um grupo de deputados governistas em situação idêntica à sua e criou um grupo de resistência na Assembleia ao qual deu o nome de "Cupim de Aço", que, junto com a bancada da oposição, impôs sucessivas e dolorosas derrotas ao então governador, que, não percebendo a jogada do combativo deputado, afoito, com o intuito de prejudicá-lo pessoalmente, juntou-se a seus adversários em Iúna e entupiu o município de obras.

Ao contar esse acontecimento para o autor destas mal traçadas linhas, que fora seu Secretário na Presidência da ALES, ria muito e dizia, marotamente: "Essa foi a melhor vingança de que já fui vítima na vida pública, pois proporcionou grandes benefícios para Iúna".

De 1959 a 1983, tudo de bom que foi feito em Iúna resultou do trabalho, efetivo e constante, de Vicente Silveira.
É uma pena – e profundamente LAMENTÁVEL – que, já passado um ano de sua morte, Iúna não tenha dado seu nome a uma rodovia, a uma avenida, a um edifício público e que nem a Câmara Municipal tenha realizado uma sessão solene dedicada estritamente à sua memória. Sobre seu caixão nem sequer havia a bandeira do município de Iúna. É, repito em caixa alta, LAMENTÁVEL, profundamente LAMENTÁVEL, que nenhuma homenagem, até hoje, tenha sido prestada à sua memória pelos poderes públicos municipais.


*Matusalém Dias de Moura é Procurador da Assembleia Legislativa do ES e membro da Academia Espírito-santense de Letras.

Presidente da Assembleia Vicente Silveira. Foto: Paulo Makoto (1982).
 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Já Registrado? Acesse sua conta
Visitante
Sábado, 20 Setembro 2025

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://anoticiadocaparao.com.br/

Cron Job Iniciado